"Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem...
O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Quando a gente abre os olhos,
abrem-se as janelas do corpo,
e o mundo aparece refletido dentro da gente.

Aprendemos palavras para melhorar os olhos.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor".

(Rubem Alves)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Uma prece...



Nossa Senhora, Mãe de Jesus,
Mãe de todos nós,
Roga por tudo que tudo é teu.

Por cada coisa, por cada ser,
Pelos que cantam, pelos que choram,
Pelos os que Te esquecem, pelos os que Te imploram.

Santa Maria, Nossa Senhora,
Maria dos tamarineiros, dos riachos, manguezais,
Dos dendezeiros bonitos.

Maria dos canaviais,
Maria das fontes limpas,
Maria das Cachoeiras,
Maria das águas claras,
Que brincam por sobre os seixos.

Maria do Subaé,
De águas tristes, pesadas,
Maria dos barcos, canoas,
De velas cheias de vento.

...

Maria das flores e folhas,
Das sementes, dos espinhos.
Maria de cada casa
E de todos os caminhos.

Maria de nossa infância,
Maria de toda gente,
Maria de todo amor,
Maria de cada Igreja
De azulejos, alfaias,
Redomas, lindos altares.

Maria das procissões,
Das festas, das romarias,
Dos cânticos, da alegria,
 
...

Maria das chegadas
E também das despedidas.
Maria de todas as vidas,
Maria de todas as horas.

Maria, Nossa Senhora,
Mãe do Menino Jesus,
Rainha de toda a luz,
Cuida de tudo que tudo é teu. 

(Ladainha de Santo Amaro)


domingo, 6 de janeiro de 2013



Eu sou a dureza desses morros,
revestidos,
enflorados,
lascados a machado,
lanhados, lacerados.
Queimados pelo fogo.
Pastados.
Calcinados
e renascidos.
Minha vida,
meus sentidos,
minha estética,
todas as vibrações
de minha sensibilidade de mulher,
têm, aqui, suas raízes.

(Cora Coralina)



sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Resposta ao tempo



Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento

Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei

Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo

Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei

E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto

E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver

No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer

Nana Caymmi