Ver é muito complicado.
Isso é estranho porque os olhos,
de todos os órgãos dos sentidos,
são os de mais fácil compreensão científica.
A sua física é idêntica à física ótica de uma máquina fotográfica:
o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro.
Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso é afirmou:
“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”.
Sei isso por experiência própria.
Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés,
diante da sarça ardente:
ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa
decretou a morte de um ipê que florescia à frente de usa casa,
porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura.
Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
(Rubem Alves)
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