Foto: Rômulo Diniz
"Quem você pensa que é?
perguntou pra mim de queixo em pé...
Sou forte,
fraca,
generosa,
egoísta,
angustiada,
perigosa,
infantil,
astuta,
aflita,
serena,
indecorosa,
inconstante,
persistente,
sensata e corajosa,
como é toda mulher,
poderia ter respondido,
mas não lhe dei essa colher.
(Martha Medeiros)
"Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem...
O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo,
e o mundo aparece refletido dentro da gente.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor".
(Rubem Alves)
sexta-feira, 30 de março de 2012
quarta-feira, 28 de março de 2012
Mar e Sol
Foto: Margareth Muniz
Você
O mar é
Para o meu Sol, para eu me pôr;
Meu Sol
De arrebol
Deitar no leito de seu mar -
A sós,
Somos nós,
De corpo e alma, você e eu;
A ser
Em você
Um Sol a se dissolver -
Nos seus
Olhos meus,
Me vejo no que vejo ali;
Amor,
Sem temor,
Olho o que eu olho me olhar -
Um Sol
Eu sou
Para o seu mar, ó meu amor;
Eu sou
Para o seu mar, ó meu amor;
Você
O mar é
Para o meu Sol, para eu me pôr;
Me pôr
Em você,
Me espelhar, me espalhar;
Em você,
Me espelhar, me espalhar;
Meu Sol
De arrebol
Deitar no leito de seu mar -
E entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Em você morrer, morrer.
Um só,
Um nó
De fogo e água, terra e céu,
Um nó
De fogo e água, terra e céu,
A sós,
Somos nós,
De corpo e alma, você e eu;
E eu
A descer,
A desnascer, desvanecer;
A descer,
A desnascer, desvanecer;
A ser
Em você
Um Sol a se dissolver -
Depois,
Nós dois,
Olhos nos olhos, vis-à-vis,
Nós dois,
Olhos nos olhos, vis-à-vis,
Nos seus
Olhos meus,
Me vejo no que vejo ali;
Ali,
Eu-você,
Olho no olho a se espelhar,
Eu-você,
Olho no olho a se espelhar,
Amor,
Sem temor,
Olho o que eu olho me olhar -
Ao entrar em você,
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Com você morrer, morrer.
Em você queimar, arder;
Em você tremer, em você,
Com você morrer, morrer.
Paixão de fogo de paixão
De fogo de paixão
De fogo de paixão,
De fogo de paixão
De fogo de paixão,
Em que me afogo de paixão
Me afogo de paixão
Me afogo de paixão
Me afogo de paixão
Me afogo de paixão
(Gal Costa)
O ato de ver
Foto: Margareth Muniz
Ver é muito complicado.
Isso é estranho porque os olhos,
de todos os órgãos dos sentidos,
são os de mais fácil compreensão científica.
A sua física é idêntica à física ótica de uma máquina fotográfica:
o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro.
Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso é afirmou:
“A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”.
Sei isso por experiência própria.
Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés,
diante da sarça ardente:
ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa
decretou a morte de um ipê que florescia à frente de usa casa,
porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura.
Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
(Rubem Alves)
segunda-feira, 26 de março de 2012
Mistério do Sem-fim
Foto: Margareth Muniz
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta
Cecília Meireles
Desapego
Foto: Margareth Muniz
"Coragem, às vezes, é desapego (...).
É aceitar doer inteiro até florir de novo.
É abençoar o amor,
aquele lá,
que a gente não alcança mais."
Ana Jácomo
domingo, 25 de março de 2012
quinta-feira, 22 de março de 2012
Eu e água
Foto: Margareth Muniz
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água, eu...
A vida que me é dada,
A água arrepiada pelo vento
A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silêncio
A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silêncio
A água me contou muitos segredos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos
Grande mãe me viu num quarto cheio d'água
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava
O mar total
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava
O mar total
E eu dentro do enterno ventre
E a voz de meu pai,
E a voz de meu pai,
voz de muitas águas
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água, eu...
Cachoeirinha,
lago,
onda,
gota
Chuva miúda,
Chuva miúda,
fonte,
neve,
mar
A vida que me é dada,
eu e água
(Maria Bethânia)
quarta-feira, 21 de março de 2012
Foto: Margareth Muniz
De quantas graças tinha, a Natureza
De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.
Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.
Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.
Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.
De quantas graças tinha, a Natureza
Fez um belo e riquíssimo tesouro,
E com rubis e rosas, neve e ouro,
Formou sublime e angélica beleza.
Pôs na boca os rubis, e na pureza
Do belo rosto as rosas, por quem mouro;
No cabelo o valor do metal louro;
No peito a neve em que a alma tenho acesa.
Mas nos olhos mostrou quanto podia,
E fez deles um sol, onde se apura
A luz mais clara que a do claro dia.
Enfim, Senhora, em vossa compostura
Ela a apurar chegou quanto sabia
De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.
Camões
Ode à Alegria
Foto: Margareth Muniz
Alegria
Bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Friedrich von Schiller
terça-feira, 20 de março de 2012
Do casulo às asas
Foto: Margareth Muniz
Impossível devolver a linha ao novelo
depois que a consciência já teceu novos caminhos.
Existem portas que se desmancham após serem atravessadas,
como sonhos que se dissolvem ao acordarmos.
Não há como retornar ao lugar onde a nossa vida dormia antes de cruzá-las.
Da estreiteza à expansão.
Da semente à flor.
Do casulo às asas, nos ensinam as borboletas.
Ana Jácomo
domingo, 18 de março de 2012
Criar laços...
Foto: Margareth Muniz
Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa "criar laços"...
(Trecho do livro "O Pequeno Príncipe", de Saint-Exupéry)
sábado, 17 de março de 2012
Sobre cativar...
Foto: Margareth Muniz
Eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas,
nós teremos necessidade um do outro.
Serás para mim único no mundo.
E serei para ti única no mundo.
Antonie Saint-Exupéry
terça-feira, 13 de março de 2012
Contemplação do simples...
Foto: Margareth Muniz
Simples é a vida.
Simples é o tempo.
A silhueta da serra,
é simples visão.
Simples também é o chão.
Simples é o coração.
Caminho de todos em um,
e o um é simples.
Simples é o todo.
O tudo é simples.
Simples é o fogo,
que queima simples,
e simples faz mover o sentimento.
Simples é o momento.
O instante, simples pensamento.
Simples é o vento.
A brisa é simples.
A palavra é simples.
O ouvir está na arte,
de falar o que é simples.
Simples é o passo.
Simples é o traço.
Simples é o compasso.
Simples é o espaço,
e nós nele, simplesmente.
Simples é a semente.
A vida em mim,
procurando ser simples.
Simples é a poesia,
que na forma de ser simples,
de tão simples irradia.
O simples, é todo dia.
O simples, evidencia
o simples.
Júnior Darico
segunda-feira, 12 de março de 2012
O que prevalece...
Foto: Margareth Muniz
O que prevalece agora é essa maneira nova de sentir a vida.
Essa perspectiva que me faz admirar, incansáveis vezes,
Essa perspectiva que me faz admirar, incansáveis vezes,
antigas preciosidades.
Essa vontade de bendizer tantas maravilhas.
Esse sentimento de gratidão pelas coisas mais simples que existem.
Esse jeito mais amigo de ouvir meu coração.
O que prevalece agora é essa apreciação mais desperta,
que me permite reinaugurar flores e céus e pessoas no meu olhar.
Essa graça que encontro, de graça, nos detalhes mais singelos.
O que prevalece agora é a confortável suposição de que,
Essa vontade de bendizer tantas maravilhas.
Esse sentimento de gratidão pelas coisas mais simples que existem.
Esse jeito mais amigo de ouvir meu coração.
O que prevalece agora é essa apreciação mais desperta,
que me permite reinaugurar flores e céus e pessoas no meu olhar.
Essa graça que encontro, de graça, nos detalhes mais singelos.
O que prevalece agora é a confortável suposição de que,
por trás de tantas e habituais nuvens,
esse contentamento faz parte da nossa natureza.
Os problemas, os desafios, as limitações, não deixaram de existir.
Os problemas, os desafios, as limitações, não deixaram de existir.
Deixaram apenas de ocupar o espaço todo.
Ana Jácomo
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